O meio musical nos dias de
hoje carrega uma forte ambição pelo lucro, mas ainda existem pessoas que não
deixaram de lado o prazer de criar música e arte, e tentam relacionar esses
dois aspectos como algo bom para sua criatividade. Nesse raciocínio é que a
cultura Hip Hop reconhece que a música é uma arma, e apesar de envolver
uma relação financeira é capaz de influenciar o sistema, refletindo o
comportamento de um grupo que carrega uma força de protesto, igualdade social e
racial.
O desenvolvimento do Hip Hop no Brasil começou
em São Paulo. Lá foram realizadas
diversas batalhas e encontros de Hip Hop, de onde saíram artistas que hoje são
muito reconhecidos, como Thaíde, Racionais MCs, DJ Hum,
Rappin Hood e muitos outros. A maioria desses rappers surgiu da
periferia, e no início de suas carreiras carregavam mensagens de revolta e exclusão,
assim como aqueles dos subúrbios de Nova York, que foram responsáveis pelo
nascimento das vertentes do movimento.
A febre da onda Hip Hop começou em São Paulo com o
surgimento do break dance, em meados
de 1984. Esse estilo de dança foi muito propagada pela mídia através de
documentários, clipes, jornais e filmes que espalharam o movimento no Brasil,
fazendo as pessoas conhecerem o movimento Hip Hop por completo. Com o passar do
tempo, o rap veio ganhando cada vez mais espaço na mídia e na cultura
brasileira. Quando o movimento começou a ficar conhecido, houve uma grande
ascensão em todos os meios de comunicação. O break, como primeiro impulsionador, chamou muita atenção e foi
utilizado por vários artistas em comerciais de TV. Além das propagandas,
começaram também a divulgar o caráter social das periferias do Brasil, que não
era algo muito mostrado na época. Além disso, também foram transmitidos muitos
clipes de Hip Hop, documentários de grafite e campeonatos de dança, o que
ajudou muito no crescimento dessa cultura. Em reportagens, matérias e artigos
na internet, atualmente a mídia mais utilizada por todas as pessoas, podemos
encontrar qualquer coisa sobre o assunto com uma infinidade de fotos e vídeos.
O movimento também teve uma forte influência
midiática através da musica, com artistas americanos como Snoop Dogg, Tupac,
Notorius Big e Afrikaa Bambaataa. Já no Brasil, após o surgimento dos Racionais
Mc’s, os jovens da periferia os tomaram como ídolos e se identificam com a
mensagem que eles cantavam, até porque eles também vieram dos guetos e
transmitiam mensagens de igualdade e revolta contra o preconceito. Além do lado
cultural do movimento, existe também um lado gangsta rap, que é um estilo que nutre a pose de mal, de “malandrão.
Na fase do gangsta rap, a referência
cultural do que deu início ao movimento foi deixada de lado, porque mostrava
uma realidade que a massa não queria saber. Com essa fase, o movimento ficou
com uma má fama, e o que antes era cultural, começou a ser focado nas drogas,
nas gangues e nos crimes, fazendo com que o Hip Hop perdesse o espaço nos meios
de comunicação de massa, tornando-se um movimento marginal. Só então na década
de 1990, graças aos rappers que ainda carregavam consigo a verdadeira essência,
a mídia encontrou uma oportunidade de usar o movimento como difusor da cultura
de consumismo. Como exemplo dessa difusão temos o Eminem, que em seu álbum
lançado em 2004 titulado como Encore, conseguiu vender em dois dias 122.459
cópias. Tornou-se uma demonstração explícita de como a mídia se apropriou
da imagem do Hip Hop. Porém, o Hip Hop não foi criado para massa, não foi
desenvolvido para ser um movimento que ganhasse dinheiro, mas sim um movimento
que pudesse trazer ajuda as pessoas que moravam nas periferias. Por conta da
indústria cultural e da mídia, essa transformação, a expressão cultural (rap,
break, grafite) deixou de ser cultural, pois começou a ser comercializado. Com
toda essa mudança a indústria cultural alterou o verdadeiro conceito do Hip
Hop, fazendo com que deixasse de ser a voz da periferia para servir os
interesses do capitalismo, sendo assim, o Hip Hop deixando de ser um mero
produto passando a ser um estilo de vida. Impulsionado pela moda, com sua pose
de mal, suas maneiras de se vestir e agir, são formas de se expressar contra a
sociedade, hoje são produtos muito relacionados com a moda, a maioria das
vezes deixando de lado seus objetivos culturais. E como não dizer que o Hip
Hop, principalmente o rap, não se tornou um produto, de acordo com a revista
Rolling Stone, em 2003, o rapper Eminem só com o cachê de shows, embolsou
cerca de 20 milhões de dólares, sem lançar nenhum disco. De acordo com a
revista Superinteressante, a mídia e a publicidade foram às maiores
beneficiadas com o uso da imagem do Hip Hop (rappers) em
campanhas publicitárias, elas aumentaram seu faturamento em 3,5
bilhões só em 2003.
Nota-se
que o movimento Hip Hop ao longo de três décadas, saiu da periferia
impulsionado pela indústria cultural e veiculado pela mídia, transformando
símbolos e adaptando-os ao consumo, deixando de ser uma cultura e
tornando-se mídia a partir do momento
em que foi usado pelos veículos de comunicação. O rap que era pobre e
excluído ganhou fama mundial, obteve vitória sobre as dificuldades e ainda
tenta vencer preconceitos todos os dias.
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